quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O chá na China


Apesar das lendas, a primeira referência documentada sobre o chá na China remonta ao século III a.c.
Segundo estes textos, havia um conhecido médico que prescrevia a planta aos seus pacientes para aumentar a concentração. As virtudes médicas da bebida devem ter sido muito conhecidas na época, pois sabe-se que um velho general chinês, na mesma época, pediu por carta aos seu sobrinho que lhe mandasse "chá autêntico". Com isso esperava aliviar os males e pesares que a sua idade avançada lhe causava.
Desde sempre, o consumo do chá esteve ligado a usos terapêuticos e medicinais. Para preparar a infusão, usavam-se as folhas verdes e tenras de chazeiros silvestres. A pouco e pouco, as propriedades da planta fizeram com que o seu consumo fosse aumentando, por isso a planta começou a ser cultivada pelos camponeses chineses, ao mesmo tempo que o processo de elaboração se ia tornando um pouco mais complexo.
Durante o século III d.c, a planta começou a expandir-se para o Sul da China e para o Norte. O chá era tão popular e apreciado que servia como presente para os imperadores, ao mesmo tempo que, em paralelo, surgia um negócio próspero que enriquecia taberneiros, comerciantes e artesãos. Estes últimos idealizaram e fabricaram numerosos utensílios e artigos que serviam para preparar a infusão, muitos deles elegantes peças que realçavam o elevado estatuto social do seu possuidor. O chá também foi usado em algumas ocasiões como moeda de troca, pois os comerciantes usavam, nos seus negócios com os turcos, uma espécie de comprimidos prensados, feitos com folhas de chá verde, cozidas a vapor.
A Idade do Ouro do chá na China corresponde à dinastia Tang (618-906 d.c). Nessa época, o chá deixou de ser consumido exclusivamente pelas suas propriedades tonificantes, passando a ser bebido por puro prazer. Além disso, nessa época surgiram os primeiros costumes e cerimónias em torno do chá, assim como uma grande quantidade de cantos e poesias nos quais se elogiavam as suas reconhecidas virtudes. Nesta tarefa destacou-se o trabalho do escritor Lu Yü (733-804 d.c.), que compilou o primeiro grande livro sobre o chá, o seu Cha Chang. Neste livro, Yu recolhe todo o saber acumulado até ao momento sobre o chá: as suas origens, descrições da planta, variedades, processos de tratamento, propriedades, utensílios necessários para preparar a infusão e tradições sobre o consumo. Em torno do chá surgiu um cuidadoso cerimonial, no qual numerosas normas regulamentavam desde a forma como deviam colher-se as folhas até à forma como se preparava e se servia a infusão. As folhas tenras coziam-se a vapor, para depois serem amassadas e misturadas com sumo de ameixa, obtendo-se assim uma massa. Esta era depositada num molde e o resultado era uma espécie de comprimido que era seco no forno. Quando se queria preparar uma infusão, o comprimido era tostado e triturado até se transformar em pó, que depois era fervido. Era muito normal acrescentar algum produto que lhe desse um sabor mais intenso como, por exemplo, sal, casca de laranja, menta ou água de cebolas doces.

images in http://pt.wikipedia.org/wiki/Dinastia_Tang
in Ficha nº 3 - "O Reino dos Chás" - Jornal de Notícias, 2005

As origens míticas do chá


As origens do chá perdem-se no tempo e só as lendas nos podem elucidar. Uma destas lendas atribui a descoberta desta planta, a Camellia Sinensis, ao imperador chinês Shen Nong, no princípio do terceiro milénio a.c. Este imperador tinha ensinado o seu povo a ferver a água antes de a beber, como medida de precaução. um dia, estando Shen Nong a descansar debaixo de um arbusto, começou a ferver a água para a beber e refrescar-se, quando uma brisa deixou cair na água algumas das folhas da árvore sob a qual o imperador se abrigava do sol. Shen Nong viu então que a água começava a ficar com uma cor acobreada: tinha nascido o chá. Segundo outro relato, depois de descobrir o chá, o imperador começou a experimentar fazê-lo com outras plantas, para descobrir assim se estas possuíam algum tipo de propriedades curativas. Esta prática era, sem dúvida, muito perigosa, por isso o imperador usava o chá para anular o efeit0 venenoso de algumas ervas e plantas.
A cultura japonesa, por seu lado, explica a origem do chá com outra lenda, que relaciona a planta com o budismo Zen. Segundo este relato, um monge asceta indiano, chamado Dharma, empreendeu uma viagem de peregrinação da Índia à China.
O monge queria permanecer acordado durante todo o caminho para, assim, praticar melhor a meditação. Um dia, esgotado pelo cansaço, adormeceu. Ao acordar, irado por ter quebrado a sua promessa, agarrou numa faca e cortou as pálpebras, para nunca mais voltar a cair em dita falta, e enterrou-as. No dia seguinte, justamente nesse local, tinha nascido uma planta: era a planta do chá. Depressa se apercebeu de que a planta tinha a propriedade de ajudar a manter os olhos abertos, afastando o cansaço. Tendo em conta as virtudes que descobrira, contou aos seus seguidores o que tinha acontecido e começou a usar o chá como ajuda para permanecer acordado durante a meditação. Quando prosseguiu a sua peregrinação para o Japão, Dharma levou consigo a planta do chá, introduzindo-a assim nos templos de budismo Zen daquele país.
Embora haja muitas histórias a respeito como surge a utilização da Camellia Sinensis tal como a conhecemos actualmente, a verdade é que o chá é originário da China e que o seu consumo remonta ao terceiro milénio a.c.

images in http://dalvaamaral.blogspot.com/2011/04/o-zen-budismo.html
in Ficha nº 2 - "O Reino dos Chás" - Jornal de Notícias, 2005

A planta do chá


O chá Camellia Sinensis é uma planta de folha perense, pertencente à família das cameleiras. Os estudiosos identificaram três variedades da planta provenientes da China, Assam e Cambodja, todas elas usadas na produção comercial.
A planta produz folhas coriáceas de uma brilhante cor verde-escura, com pequenas e delicadas flores brancas de cinco a sete pétalas cada uma. As flores produzem um fruto semelhante à noz-moscada, que conté, de uma a três sementes.
Na colheita, apanham-se as folhas e, às vezes, as flores da planta, a partir das quais se elabora o chá. A colheita faz-se atendendo a alguns critérios de selecção das folhas, pois nem todas as folhas da planta servem para fazer chás de determinada qualidade. Em geral, apanham-se alguns rebentos e as folhas que se situam na parte imediatamente inferior dos mesmos. Dependendo do tipo de folhas apanhadas, far-se-ão chás de maior ou menor qualidade.
Existem três tipos de colheita:
  • A colheita mais fina, que consiste em apanhar somente o rebeto final e as duas folhas inferiores a este. Esta colheita faz-se muito poucas vezes por ano (entre 5 a 9, dependendo da altitude da plantação)
  • A colheita média é feita ao mesmo tempo que a mais fina, porém, a apanha prolonga-se por mais dias. Por este motivo, as folhas serão maiores e não proporcionarão uma infusão tão harmoniosa como a colheita mais fina.
  • A colheita tardia consiste em apanhar as folhas mais velhas, ou seja, o rebento e as três ou quatro folhas seguintes. Este chá, geralmente, é de pior qualidade que o das colheitas anteriores e costuma utilizar-se para misturas.
As responsáveis pela colheita são mulheres jovens que aprenderam o ofício de forma tradicional. Normalmente, cada uma delas apanha entre 27 a 30 quilos por dia. Uma vez apanhadas, as folhas devem ser transportadas para a fábrica o mais rapidamente possível, para evitar que comecem a murchar. É também importante que as folhas não se amontoem nem se esmaguem demasiado, e também que não se partam, o que poderia provocar o começo de reacções químicas nas folhas. Tem-se sempre muito cuidado para que as folhas cheguem à fábrica no melhor estado possível, porque o resultado de uma boa infusão depende, além da qualidade das folhas, do bom estado em que chegam à fábrica.
Uma vez na fábrica, começa a elaboração do chá, assim como a selecção das folhas destinadas a uma ou outra variedade de chá.
O chá preto e o chá verde provêm da mesma planta, pelo que as diferenças entre um e outro devem-se aos diferentes processos de tratamento das folhas.
As principais diferenças entre os diversos chás costumam depender do grau de fermentação. O chá verde não é fermentado, enquanto que o chá semi-fermentado fermenta-se em menos tempo do que o chá preto e o chá pós-fermentado fica a fermentar mais tempo que qualquer um dos outros.

image in http://pt.wikipedia.org/wiki/Camellia_sinensis
in Ficha nº 1 - "O Reino dos Chás" - Jornal de Notícias, 2005

O Reino dos Chás

Em tempos fiz a colecção de chás do Jornal de Notícias. Mas infelizmente não cheguei a dar muito uso a essa informação. Hoje estava nas minhas arrumações e encontrei a colecção de fichas e lembrei-me de partilhar com todos vós.

Boa leitura e espero que gostem.

Augusta