sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A cerimónia do chá no Japão


Um dos cerimoniais japoneses mais influenciados pela religião Zen é, sem dúvida, a cerimónia do chá e todo o protocolo existente em torno dela. O Cha-no-yu ou "água quente para o chá" é um caminho de realização pessoal interligado com a disciplina Zen. A cerimónia do chá já existia desde o período Nara, porém, estava confinada a mosteiros e templos. O monge Eisai e o seu discípulo Myoe contribuíram de forma fundamental para a sua expansão que, por ordem de Ashikaga Yoshimitsu, estabeleceu uma regulamentação bastante rígida. Este encarregou a família guerreira Ogasawara da codificação da cerimónia, que resultou no aparecimento de uma obra de doze volumes chamada de Sangi-itto-Soshi. No entanto, é ao professor Noami (1397-1471) e à sua obra que se deve a configuração definitiva do ritual do chá como "via do chá". Os grandes mestres do chá brilharam especialmente no final do período Muromachi e princípio do Momoyama. O trabalho de protecção e mecenato das artes que realizaram determinados shoguns, como Yoshimitsu, deu lugar, além das transformações na cerimónia do chá supra citada, à configuração definitiva do Teatro Noh.
A cerimónia do chá é muito mais que o simples acto de beber uma infusão. O Cha-no-yu implica um modelo de comportamento, uma filosofia segundo a qual o homem se situa em harmonia com a Natureza e o Universo. A cerimónia é um modo de conceber o mundo, um caminho de contemplação e observação pessoal e de tudo o que nos rodeia.
Embora existam perto de vinte e quatro escolas nas quais se desenvolve a cerimónia do chá, há uma maneira tradicional de a realizar. A cerimónia celebra-se de preferência na casa de chá ou Sukiya, embora actualmente se possa realizar em qualquer sítio suficientemente calmo e íntimo. A casa de chá está sempre rodeada de um jardim, fechado com uma pequena cerca dentro da qual existe outro jardim interior. Os convidados - não mais que cinco - têm de se vestir de modo simples e austero. Em algumas escolas, podem pendurar no seu cinto um pequeno leque, símbolo das espadas que usavam os antigos samurais. Dentro da casa, os convidados esperam sentados no chão, sobre os calcanhares, que a cerimónia comece. Esta deve durar quatro ou cinco horas e tudo o que acontecer segue um guião pré-estabelecido: movimentos, palavras, silêncios, gestos, o que se comer e o que se bebe. A cerimónia do chá reúne todos os elementos essenciais da cultura japonesa: harmonia com a Natureza e as pessoas; respeito pelos outros, pureza de coração e de espírito e gosto pela tranquilidade e pelo sossego.

images in http://www.chanoyu.com/indexa.html
in Ficha nº 5 - "O Reino dos Chás" - Jornal de Notícias, 2005

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