segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O chá impõe-se na Europa


No século XVII, a Holanda transforma-se no principal importador de chá para a Europa. A Companhia Holandesa das Índias Orientais carrega os seus navios, na ilha de Java, com chás da China e do Japão que, ao chegarem à Europa, são distribuídos por Itália, França e Alemanha. A própria Holanda deixou-se seduzir pelo chá. As novas-ricas damas burguesas gostavam de realizar cerimónias do chá ao estilo das japonesas, embora adaptadas ao gosto holandês. As participantes podiam chegar a tomar até quarenta ou cinquenta chávenas de chá e finalizavam sempre a cerimónia bebendo um pouco de brandy e comendo passas com açúcar.
A excentricidade destas damas surpreendia os seus contemporâneos, de forma que, em 1701, foi publicada uma sátira intitulada "As Loucas Mulheres do Chá", que criticavam acidamente estes comportamentos.
A fama do chá como produto terapêutico chegou rapidamente aos ouvidos da alta sociedade francesa e alemã. O chá chega a França pela primeira vez em 1637, desencadeando múltiplas discussões em foros académicos a respeito dos seus efeitos sobre a saúde. A pouco e pouco, a infusão foi vencendo os seus caluniadores e ganhando adeptos, alguns deles ilustres, como o chanceler Séguier, o cardeal Mazarino - que o bebia para curar a sua gota, - Madame de Sévigné ou o poeta e escritor Racine.
O chá chegou à Alemanha vindo da Holanda. Como era um produto caro, no início, só as classes mais ricas puderam consumi-lo. Isto impediu que se popularizasse e destronasse a cerveja como a bebida nacional, excepto na Frísia, onde actualmente continua a ser consumido.
Além da Grã-Bretanha, o país onde o chá terá maior aceitação será na Rússia, onde chega por via terrestre, transportando em longas caravanas, através das rotas asiáticas. O primeiro chá que chegou à Rússia foi um presente da China para o Czar Alexis I, em 1618. O produto despertou tal interesse que, em 1689, foi assinado um acordo comercial entre ambos os países para a sua importação regular. O intercâmbio era feito na cidade fronteiriça da Kayakhta, onde os russos trocavam peles por chá. As caravanas percorriam uma distância de 17.500 quilómetros, demorando entre dezasseis a dezoito meses a fazer todo o trajecto. Integravam-nas 300 camelos, cada um carregado com 250 quilos de chá. No século XIX, a construção do caminho-de-ferro transiberiano acabou com este trânsito, permitindo que o chá chegasse a Moscovo em sete semanas.
O preferido dos russos, até ao século XVIII, era o chá preto fumado, um produto tão caro que só podia ser consumido pelas classes altas. A forma russa de beber o chá era, e é, peculiar. Os russos gostavam de beber o chá em pequenos copos de vidro, acrescentando-lhe limão, mas nunca leite. Também o consumiam mediante pequenos goles, com um torrão de açucar preso entre os dentes. Para preparar a infusão, os russos inventaram o Samovar, uma mistura de bule e aquecedor de água.

images in http://pt.wikipedia.org/wiki/Samovar
in Ficha nº 8 - "O Reino dos Chás" - Jornal de Notícias, 2005

Sem comentários:

Enviar um comentário